Coluna Histórias & Estórias – Por Chico Lelis:
Cada história!!! (4)
Seu nome, senhor? (pergunta a recepcionista do hotel).
Aleno Gouveia!
Como senhor?
Aleno Gouveia, respondia ele já sabendo que alguém teria que ajudar a moça a entender que o nome dele era Heleno Gouveia, mas que ele não conseguia pronunciar. Esclarecida essa questão, Heleno ria muito com quem o socorrera naquele episódio.
Mas não pensem que Heleno ficava chateado com aquilo, ele até se divertia, como fui testemunha e “tradutor” em várias viagens que fizemos juntos, para lançamentos aqui no Brasil e no exterior.
Era como hoje se diz, “um querido” da turma. Sempre bem-humorado, pronto para ajudar quem precisasse e em busca de antiguidades que pudessem ampliar a enorme coleção que tinha em sua casa, no Recife.
Em uma dessas viagens, a Paris, me chamou de lado e pediu que o acompanhasse a um antiquário ali perto do hotel. Ele buscava por luminárias romanas, que iluminam a “cidade luz”, como Paris é conhecida.
O vendedor, solicito, apontou para algumas peças que havia na loja. Heleno olhou atenção e me disse: “vamos embora, as luminárias que tenho lá em casa estão em melhor estado de conservação que todas essas aqui”.
Fiquei surpreso e falei brincando que não era possível. Rindo, ele disse que um dia me convidaria para conhecer sua casa, que era tombada pelo Patrimônio Histórico do Estado. Esse episódio aconteceu durante a viagem à França, onde apresentamos o Vectra V6 (que nunca foi lançado no Brasil) para a imprensa brasileira, com um belo passeio até o Vale do Loir (história contada na coluna anterior).
Algum tempo depois visitei Recife e fui à casa dele, um verdadeiro museu, repleta de antiguidades e vi que ele tinha razão quando criticou as peças vistas no antiquário de Paris.
Pois bem, que era Heleno Gouveia? Era é dono do Diário da Manhã, fundado em 1927, que ele assumiu em 1962. Uma curiosidade do jornal é que ele era colado em postes da cidade do Recife, coisa que não mais acontece porque, em um determinado ano, o então prefeito da cidade estipulou multa de R$ 5 mil, para cada jornal colado a um dos postes da cidade.
Mais uma curiosidade do jornal, segundo Beatriz Gouveia, hoje sua diretora, é que o Diário da Manhã era o único jornal de grande cidade no País, ainda tipográfico, em 1998. Em 2000 passou a ser online, sendo impresso somente quando algum anunciante necessite que seja assim.
Era extremamente criativo. Quando alguém disse a ele que a Kombi branca usada pelos funcionários para distribuir o jornal pelos postes, estava com péssimo aspecto, ele não teve dúvida. Comprou uma boa quantidade de cal, entregou algumas brochas para os funcionários e falou para que o veículo fosse pintado para “ficar bonito” como era quando novo.
Cansado de perder tempo no trânsito de Recife e sem ter a certeza de conseguir acessar os locais onde precisava entrar Heleno, me contou que comprou um Monza e o colocou na “praça” como táxi exclusivo, para ele e sua esposa, dona Benita, hoje com 90 anos. Heleno nos deixou em 2002.
A draga rejeitada
A casa de Heleno é tombada pelo Patrimônio Histórico e isso faz com que uma área em volta dela tenha que ser igualmente preservada. Acontece que, um dia, alguém emitiu uma ordem para se fazer uma correção no curso do rio Capibaribe. Uma obra dentro da área de proteção da casa de Heleno, estabelecida pelo Patrimônio.
Então “Aleno” foi para os fundos da casa, de arma em punho (ele me contou que era uma espingarda que nem munição tinha) e ameaçou os funcionários que operavam a draga: “se vocês continuarem, eu atiro. Vocês estão em área protegida pelo Patrimônio”.
Não precisou falar duas vezes!
Em outra ocasião, andando de carro pela orla do Recife, deu por falta de um prédio que tinha em determinada praia, e queria mostra-lo para alguém que estava junto com ele. Mas não viu imóvel.
Chegando na sua casa falou para a filha Beatriz, que hoje dirige o jornal, que o prédio havia sumido. Ao que ela respondeu que havia mandado fazer uma reforma, porque ele estava com aparência muito feia.
Ele ficou muito bravo e ameaçou processá-la, mas ela argumentou que o referido prédio já estava em seu nome e ela fez o que achava que deveria fazer.
No Clube Med
Durante o lançamento do Kadett (o meu primeiro como gerente de Imprensa da GM), Clube Medi do Rio das Pedras, em Mangaratiba (RJ) em 1989 “Aleno” foi um dos principais atores de uma “peça” criada para brincar com os GOs (Gentil Organisateur) do resort.
Vestindo uma peça de banho semelhante àquelas usadas no início do século passado, destacou-se dançando com grande desenvoltura, apesar dos seus mais de 100 kg.
Esse era o “Aleno” Gouveia, querido por toda a comunidade do setor automobilística, jornalistas, e representantes das fábricas.
Só um adendo: Os Gos não gostaram da brincadeira e a “peça” teve que ser interrompida já que a luz do anfiteatro d Club Medi foi misteriosamente desligada.
(Chico Lelis – chicolelis@gmail.com). (Foto: Arquivo pessoal de Heleno Gouveia).