Coluna Muito Além de Rodas e Motores:
As surpresas que se enfrenta no
desenvolvimento de um novo automóvel
Por maior experiência que possuam, adquirida ao longo de anos de estudos em faculdades, no relacionamento com colegas de profissão e, também, por conhecimentos acumulados na resolução de problemas que surgem a cada momento, os engenheiros das empresas enfrentam desafios, com os quais eles próprios se divertem com as dificuldades e as soluções que encontram para vencê-las.
São muitos os casos ocorridos, principalmente numa nova atividade industrial, como foi a automobilística no Brasil, que há 67 anos nasceu provocando uma radical mudança de costumes no País. Meu objetivo é relatar casos que ocorreram, mas que poucos vivenciaram e ficaram desconhecidos.
Em maio de 1980, a Volkswagen lançou no mercado brasileiro o automóvel Gol, que se tornou um campeão de produção e de vendas, inclusive no mercado internacional, com as 8 milhões e 500 mil unidades, que o mantiveram na liderança do mercado por 27 anos e a exportação superior a um milhão e 500 mil veículos.
O Gol foi lançado com motor de 1,3 litro, alimentado por um carburador e, para ter um porta-malas com espaço razoável para as bagagens, o estepe foi instalado no cofre do motor. Mas como o motor 1.3 não permitia desempenho razoável, a Volkswagen, algum tempo depois, o substituiu pelo motor 1.6, com dois carburadores, o que levou os engenheiros a transferir o estepe para o porta-malas, pelas dimensões limitadas do cofre do motor e do conjunto formado pelo motor e maiores carburadores. Essa mudança acabou reduzindo ainda mais o espaço para as bagagens.
Mas o que os engenheiros da fábrica não notaram o presidente da empresa, Wolfgang Sauer, soube, ao visitar a concessionária Condor, em São Paulo, que um mecânico instalou o estepe no cofre do motor invertendo a posição da roda reserva, ganhando o espaço necessário para a sua instalação de volta para o cofre do motor, providencia que a fábrica também voltou a adotar.
A outra história ocorreu no Campo de Provas da Ford, no município de Tatuí, interior do estado de São Paulo. A Ford brasileira, como participante pioneira do programa Befiex (de incentivo à exportação de produtos brasileiros) foi designada para fornecer automóveis Escort para a Islândia, país localizado hemisfério norte, onde o inverno é muito rigoroso.
Por essa característica climática, a Ford precisou realizar testes especiais para dar aos automóveis padrões necessários para atender as características técnicas estabelecidas pela legislação islandesas.
Para conhecer se os carros brasileiros atenderiam os padrões da Islândia, a engenharia da Ford montou uma câmara fria, com equipamentos de testes em temperatura inferior a -20 graus Celsius durante um longo período.
Ao completar o tempo estabelecido, os engenheiros foram retirar o carro da câmara fria, mas tiveram a surpresa com a impossibilidade de abrir as portas do automóvel em consequência do congelamento de óleo, graxa e outros produtos, como água do radiador e outros líquidos.
Essa ocorrência obrigou os engenheiros a abrirem a porta da câmara fria e alguns dias depois, quando o congelamento foi superado, puderam retirar e submeter o automóvel a uma avaliação geral.
Por essa constatação, a Ford precisou de um maior tempo concedido pela Ford internacional para saber das providências necessárias para atender os padrões técnicos dos produtos utilizados nos veículos fornecidos a países para os quais realizavam exportação.
A Ford recorreu a fornecedores de lubrificantes que rapidamente desenvolveram óleos e graxas com resistência a menor nível de congelamento.
Além da Islândia, os automóveis Escort foram exportados também para a Suécia, Dinamarca e Noruega. E essa histórica exportação brasileira foi comemorada com uma viagem de Estocolmo, na Suécia, a Genebra, na Suíça, por jornalistas brasileiros e o percurso de regresso por jornalistas europeus.
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Crédito das imagens: Divulgação VW/Divulgação MIAU/Crédito Divulgação ao Autor.
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