Coluna Muito Além de Rodas e Motores:
Baby Jordão, mulher de fé, que
ajudou o filho chegar à Fórmula-1
Temos falado recentemente na força da mulher no desempenho de atividades que, anteriormente eram predominantemente masculinas. Mas essa capacidade e excelência eu pude conhecer e comprovar há muito tempo. Com muita coragem, determinação e exemplo de fé, Baby Jordão rompeu tradições, superou as barreiras tradicionais e chegou ao êxito desejado, o que muito homens importantes não conseguiram.
Ela teve uma vida marcada por desafios e foi uma das primeiras da sociedade paulista a criar sua própria empresa, uma agência de Relações Públicas na década de 1970.
Uma bela tarde, um dos recepcionistas do jornal O Estado de S. Paulo, onde eu trabalhava, me informou que a senhora Baby Jordão queria falar comigo. Fiquei curioso pelo nome que para mim soou simpático. Alguns minutos depois ela chegou muito bem vestida, revelando elegância e respeitoso comportamento.
Estou aqui para me apresentar e conhecê-lo pessoalmente porque acompanho o seu trabalho e que presta grande ajuda ao automobilismo, explicou-me Baby Jordão. Tenho um filho que vai disputar corridas de kart, consegui o patrocínio da Sadia e vim convidá-lo para assistir às corridas e analisar o seu comportamento na pista.
Aceitei o delicado convite e fui ao kartódromo ver as corridas e, naturalmente, apreciei o seu desempenho. Não ganhou a corrida, mas teve boa atuação e demonstrou a mesma ousadia da mãe, envolvendo-se com os líderes. Só não lembro o resultado que obteve. O jovem kartista era Francisco Serra que, pelo patrocínio obtido, a própria Baby, em tom de brincadeira, referia-se a ele como Frango Voador, plagiando o tema de uma campanha publicitária da empresa patrocinadora.
Revelando-se como uma excelente assessora de Imprensa, pela experiência em Relações Públicas, com uma certa frequência passei a ser visitado pela senhora Baby Jordão, com informações sobre a carreira de seu filho, que rapidamente demonstrou grandes progressos.
Chico Serra compensou em sua carreira a dedicação de Baby com uma série de vitórias e, principalmente, com o bicampeonato paulista de kart, em 1975 e 1976; os quatro campeonatos brasileiros da Fórmula Super Vê dos anos de 1972, 1973, 1974 e 1976 e, em seguida, os de campeão paulista dessa categoria, em 1976, e o de vice-campeão brasileiro no mesmo ano.
Em 1979, também com a ajuda de Baby, trilhou o caminho desenhado por Emerson e Wilsinho Fittipaldi e conquistou o título de campeão da Fórmula 3 Inglesa. Dois anos depois foi convidado por Emerson e Wilsinho para correr pela equipe Fittipaldi de Fórmula 1. Na equipe brasileira participou de 18 corridas, com estreia no Grande Prêmio do Oeste dos Estados Unidos e o último, em 1983, no Grande Prêmio de Mônaco. O melhor resultado obtido foi o sexto lugar no GP da Bélgica de 1982, mas a participação na Fórmula 1 ampliou ainda mais a sua experiência.
Em 1983, transferiu-se para a equipe Arrows e disputou apenas três corridas, encerrando sua participação na categoria.
Foi uma experiência muito eficiente apesar de o Copersucar estar em desenvolvimento e o Arrows, por deficiências técnicas, não o ter ajudado a obter bons resultados. Ao encerrar seu estágio na Europa e antes de regressar ao Brasil, participou de uma corrida da categoria Cart, nova denominação da Fórmula Indy, nos Estados Unidos.
No automobilismo, sabemos que sem um carro competitivo nenhum piloto consegue importantes resultados e que são necessários outros talentos complementares, como ousadia, coragem, visão excelente, sensibilidade para identificar os acertos necessários do carro, atos reflexos, que são rápidas reações involuntárias geradas pela medula antes de o cérebro processar que a pessoa passa por uma situação delicada ou de perigo, e uma dose de vivacidade ou esperteza para se aproveitar de indecisões ou vacilos do adversário.
No Brasil, acertou disputar a Stock Car, principal categoria e com a pós-graduação internacional conquistou o tricampeonato dos anos de 1999, 2000 e 2001.
E pensar que tudo começou pelo ímpeto de Baby Jordão há 50 anos, e que não parou apenas no filho, pois seu neto, Daniel Serra, igualou as conquistas do pai na Stock Car, com o tricampeonato brasileiro nos anos de 2017, 2018 e 2019, e ampliou os feitos com duas vitórias na famosa corrida de Le Mans.
Parabéns às mulheres e parabéns a Baby Jordão!
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Crédito das imagens: Arquivo pessoal e Arquivo Internet.
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