Coluna Muito Além de Rodas e Motores:

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Postado 12 de abril de 2023 por bisponeto em

A saga dos Gordinis recordistas

mundiais no automobilismo brasileiro

“Esses Homens Maravilhosos e suas Máquinas Corredoras” foi a campanha desenvolvida pelo falecido publicitário e jornalista Mauro Salles para destacar os 133 recordes de resistência estabelecidos, em 1964, pela equipe Willys, com um automóvel nacional Gordini. O veículo, pilotado por dez pilotos, entre eles Geraldo Meirelles Freire, percorreu a distância de 50.000 quilômetros ao longo de 21 dias, 10 horas, 37 minutos, 14 segundos e 93/100.

Nesse período, o carrinho brasileiro registrou 54 recordes locais e nacionais e 25 internacionais e o principal feito foi superar as marcas estabelecidas por um Ford Cortina, em 1963, um ano antes, na pista francesa de Monthlery, conduzido por Jim Clark, Trevor Taylor, Tony Brooks, Ted Dougary e outros pilotos, durante sete dias.

Para demonstrar a grandiosidade do feito do pequeno, bravo e teimoso Gordini, a campanha de Mauro Salles foi inspirada no filme Esses Homens Maravilhosos e suas Máquinas Voadoras, de 1965, dirigido por Ken Annakin, sobre a história da decisão do magnata britânico Lord Rawnsley (interpretado pelo ator Robert Morley), em 1910, proprietário de um jornal inglês, de promover uma corrida entre aviões de Londres a Paris, a pedido de sua filha Patrícia, interpretada por Sarah Miles, com ideia do marido, Richard Mays (representado por James Fox).

Mas os feitos e o sucesso alcançados no mercado brasileiro pelo pequeno Gordini não se limitaram a esses recordes e fazem parte da história do automobilismo brasileiro de competição. O carrinho, com pequeno motor de apenas 850 centímetros de cilindrada, não tinha condições de superar as berlinetas Willys-Interlagos e também as carreteras e os Simca, Alfa Romeo, Simca Abarth, as grandes carreteras e outras marcas de veículos, mas foram mantidos na equipe pela imagem positiva sempre demonstrada e pelo bom desempenho competindo contra carros com motores maiores.

Entre os vários bons pilotos que pilotaram os Gordini de competição e fizeram parte da equipe Willys, destaco Geraldo Meirelles Freire, um dos participantes do recorde de 1964 que, apesar de ter tido uma carreira curta, marcou época e deixou seu nome na história do esporte nacional, competindo em diversas e importantes provas.

Na época do recorde, Geraldo Meirelles Freire era um dos pilotos oficiais da equipe Willys de competição e conduzia um dos Gordini na categoria de carros de turismo com motor até 1.000 cm3 de capacidade cúbica. Naturalmente, pelo motor menos potente, Geraldo não tinha condições de almejar a vitória nas corridas, mas a divisão por categorias indicava o vencedor em classificação separada.

Sua carreira esportiva teve início com a participação em ralis organizados pelo Centauro Motor Clube em 1959, como os ralis do Rádio, da Serra do Mar, da Meia Noite e outros, até 1961. Em corridas, começou no Autódromo de Interlagos, utilizando um Volkswagen com motor de 1.300, com o qual se classificou em quarto lugar o que lhe valeu elogios por ter superado carros com motores de maior potência. Em fevereiro de 1962, participou do Festival da Pista de Interlagos, promovido pelo Automóvel Clube Paulista, e registrou o tempo recorde de 5 minutos e 7 segundos, para a volta no traçado antigo de Interlagos de 7.960 metros. Suas atuações nas corridas foram muito elogiadas e chamaram a atenção de diretores da Willys, um dos quais o convidou para integrar a equipe, em setembro de 1964. Geraldo lembra do apoio recebido de Bird Clemente e da aprovação do chefe Luiz Antonio Greco.

Sua estreia pela Willys foi na corrida 500 Quilômetros de Interlagos, em que obteve o sétimo lugar na classificação geral. Os principais resultados obtidos em sua carreira foram com carros particulares, como o terceiro lugar em Araraquara em agosto de 1963, com Gordini; o primeiro depois de dois carros da Willys na corrida 1.500 Quilômetros de Interlagos; o terceiro lugar na classificação geral e segundo na classe até 1.600 cm3, com Willys-Interlagos na corrida 1.500 Quilômetros de Interlagos e, com o mesmo carro em setembro do mesmo ano, o segundo lugar na classe até 1.600 cm3 na prova 1.600 Quilômetros de Interlagos e sétimo na classificação geral.

Em maio de 1964, na prova 12 Horas de Brasília, apesar da quebra de um semieixo traseiro, foi décimo-terceiro na classificação geral e quinto na classe de carros com motor até 850 cm3 e, dois meses depois, com um Gordini, foi o primeiro piloto independente e nono na corrida 6 Horas de Interlagos. No mês de agosto, venceu na classe até 850 cm3, com um Renault 1093 e obteve a sexta posição na geral na 100 Milhas da Guanabara.

Geraldo comentou que os resultados registrados pelos Gordini da equipe Willys escondiam as virtudes dos pilotos porque os automóveis não permitiam acompanhar veículos mais velozes, mas que eram importantes por demonstrar as qualidades dos carrinhos para o público, numa forte exposição promocional de mercado para os modelos Renault Gordini e Renault 1093.

Hoje, renomado advogado, Geraldo revela satisfação e respeito aos profissionais e considera ter sido gratificante a oportunidade de ter defendido a equipe. Também destaca a ajuda recebida dos companheiros de equipe, especialmente Bird Clemente, Luiz Pereira Bueno e Danilo de Lemos.

Como maior patrimônio de sua carreira esportiva, Geraldo atribui à participação e colaboração que pôde prestar ao principal evento de sua vida que foram os 133 recordes do Renault Gordini no teste de resistência em circuito fechado no Autódromo de Interlagos. Considera que o evento dos recordes deixou um importante legado em termos de vida, trabalho, orgulho e reconhecimento da fábrica Renault em manter sempre viva a memória de um programa que retribuiu como homenagem e proporcionou grande notoriedade aos pilotos junto ao público aficionado em automobilismo e da imprensa especializada até hoje saudosamente lembrada pelos participantes.

Acesse nossos podcasts: https://soundcloud.com/user-645576547/sansao-contra-golias-a-saga-dos-gordinis-recordistas-mundiais-no-automobilismo-brasileiro.

Crédito das imagens: Arquivo Internet.

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