Coluna Muito Além de Rodas e Motores:

Em vez de só o rádio, preferiram levar o automóvel

A frequência de furtos de rádios em automóveis ganhou tal importância em São Paulo que em um dia de 1988 recebi uma consulta do apresentador de um programa de notícias veiculado na TV Manchete, o respeitável profissional Rodolfo Gamberini, que solicitou o empréstimo de um carro, Ford ou Volkswagen, para sua equipe de reportagem tentar filmar cenas que mostrassem, ao vivo, como os ladrões procediam para furtar o aparelho de rádio de um veículo.

Com autorização da empresa, decidi emprestar a Gamberini um Volkswagen Santana, pois ainda estávamos promovendo o lançamento da motorização 2.000, motor AP 2000. Entendi que, por coincidir com um lançamento recente, seria uma oportunidade para a Autolatina ganhar mais exposição para o novo veículo, numa cena com lances de expectativa perigosa e, também, de excitação.

Com a participação da engenharia da fábrica escolhi o automóvel mais bonito, um brilhante e elegante azul metálico, que recebeu a melhor e mais cuidadosa preparação para realçar as cenas do invulgar episódio. E o local escolhido pela equipe da TV foi um trecho na saída do estacionamento do Hospital Beneficência Portuguesa, rua tranquila que beira a Avenida 23 de Maio, local aprovado pelos policiais por ter sido, na ocasião, um dos pontos de maior incidência de furtos e ser uma área sem policiamento ostensivo.

Orientado por policiais Gamberini montou um plano de ação, submeteu os câmeras a um treinamento físico, estratégico e psicológico, escolheu o ponto certo para a filmagem e, no dia da gravação, foram para o local determinado onde poderiam filmar sem serem vistos pelos marginais.

A equipe estava preparada para filmar os ladrões arrombando o veículo e abandoná-lo portando o aparelho de som. Mas os ladrões devem ter gostado do carro e surpreenderam os repórteres que, sem esperar por um enredo diferente, ficaram aparvalhados, olhando um para o outro sem saber o que fazer porque a história teve um encerramento diferente do planejado.

Em vez de furtarem o rádio, os ladrões deviam ter plano para furtar o automóvel e surpreenderam a equipe de TV acionando o motor e deixando o local velozmente, como experientes motoristas, sem permitir as cenas planejadas pela equipe que os mostrassem portando o equipamento de som.

Para a frustrada equipe de repórteres restou desmontar e recolher os equipamentos e voltar à base. E o clima reinante durante todo o regresso à emissora foi de grande frustração e de dúvida: como vamos explicar à Autolatina que em vez do rádio os ladrões se encantaram com o carro e, por isso, mudaram de plano e decidiram furtar o pacote completo. E como justificar na redação que ficaram atônitos e sem reação diante da surpreendente ação dos meliantes?

O final da história me foi transmitida com a elegância de Rodolfo Gamberini que foi à sede da Autolatina informar sobre a inesperada ocorrência e perguntar quais providências deveria tomar. Como o carro estava segurado, foi pedido apenas um boletim de ocorrência que, posteriormente, foi entregue à seguradora, que administrou o pagamento do valor do automóvel indicado no contrato.

Sinceramente, nunca tive informação sobre o paradeiro do veículo. E o episódio somente me fez estreitar o meu relacionamento com o Gamberini e com a equipe da saudosa TV Manchete.

Acesse o nosso podcast: https://soundcloud.com/user-645576547/em-vez-de-so-o-radio-preferiram-levar-o-automovel. 

Crédito das imagens: Arquivo de Internet  

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