Coluna Muito Além de Rodas e Motores:
Wolfgang Sauer e Joseph O´Neill, dois executivos que mudaram o rumo da indústria automotiva brasileira
Wolfgang Sauer e Joseph O´Neill, respectivamente, presidentes da Volkswagen e da Ford no Brasil nas décadas de 1970 e 1980, se transformaram em dois ícones da história da indústria automotiva nacional. Eles foram além do que a maioria dos executivos costuma realizar que é cumprir a missão de bem administrar os interesses empresariais, de manter produtos adequados ao mercado e garantir a necessária rentabilidade das companhias, o que sempre foi muito difícil.
Sauer foi o homem que exportou mais de 170 mil carros para o Iraque e Joseph O’Neill, foi responsável pela realização do primeiro recall no Brasil.
É importante destacar que, em companhias diferentes e absolutamente concorrentes, Sauer e O’Neill foram sempre cavalheiros, elegantes, éticos e de mútuos respeito e admiração.
Wolfgang Sauer nasceu em Stuttgart e, depois de vir para o Brasil para comandar a Bosch, tornou-se presidente da Volkswagen e adotou a nacionalidade brasileira. Joseph O’Neill, nascido na Pensilvânia, nos Estados Unidos, foi presidente da Ford Brasil e, também revelando sua simpatia pelo País, casou-se com Zaira Zablith, que foi sua secretária na primeira fase de sua residência no País.
Nos 16 anos em que foi presidente da Volkswagen do Brasil entre 1973 e 1989, Sauer contribuiu de forma decisiva e corajosa com eficiência e qualidade dos produtos e serviços oferecidos aos consumidores. Também foi responsável por grandes programas de exportação de veículos brasileiros vendidos em mais de 100 países do mundo.
Sauer comandou uma equipe que trabalhou com ousadia e uma visão estratégica que colocaram a Volkswagen em posição de destaque entre as maiores empresas do Brasil e até foi exemplo mundial com novos padrões operacionais.
Seu maior feito, nos anos de 1970, proporcionou à empresa um grande e inédito programa de exportação para o Iraque, por intermédio do maior contrato mundial de venda de automóveis, com o modelo Passat. O total de Passat vendidos para o Iraque superou o volume de 170 mil unidades. E pela coragem de Sauer, a Volkswagen superou, até hoje, a marca de 4 milhões de veículos exportados para mais de uma centena de países.
Para garantir esse programa para o Brasil, aceitou as condições impostas pelo líder do Iraque, Saddam Hussein, mediante pagamento em petróleo, o que exigiu de Sauer aprovação da presidência do Brasil por intermédio do Ministério da Indústria e Comercio, que transferia o valor da operação à Volkswagen.
Em 1983, a Volkswagen desenvolveu um modelo de Passat para atender especificamente para uma demanda de exportação para o Iraque. O governo iraquiano pagava esses carros com petróleo para a Petrobras, que então repassava o dinheiro para a montadora.
Em 1986, devido a um excedente de petróleo, a Petrobras solicitou para a Volkswagen suspender as remessas de carros. Para não parar a linha, a montadora decidiu comercializar o modelo em suas concessionárias no Brasil, que acabou sendo vendido no País até 1987.
Se não acertasse esse acordo, onde Sauer iria estocar tanto combustível?
Outra ação importante de Wolfgang Sauer foi a exportação, no final dos anos 80, de versões do Voyage e da Parati (chamados de Fox) para os Estados Unidos e Canadá, superando 200 mil unidades vendidas até 1993.
O plano de internacionalização da Volkswagen incluiu também a exportação de veículos produzidos no Brasil a mais de 100 países, inclusive a China e a Rússia.
Sauer também incentivou a construção da fábrica de Taubaté, criou o Consórcio Nacional Volkswagen e o Banco Volkswagen, além de convencer a matriz alemã a adquirir, em 1979, a fábrica da Chrysler o que permitiu a criação da Volkswagen Caminhões Ltda., que, em 1981, iniciou a produção de caminhões no País e hoje é líder de vendas do mercado brasileiro e de toda a América Latina.
Wolfgang Sauer ainda defendeu a criação da Autolatina, em 1987, unindo as operações da Volkswagen e da Ford, nos mercados brasileiro e argentino e foi eleito o primeiro presidente da joint venture além de contribuir para estabelecer o inédito relacionamento entre empresa e os sindicatos.
Sauer, que teve a sua biografia “O Homem Volkswagen” de autoria de Maria Lúcia Dureetto, lançada em 2012, faleceu em São Paulo, no dia 29 de abril de 2013, aos 83 anos.
O desempenho de Joseph O’Neill foi semelhante ao de Wolfgang Sauer. Também foi incentivador do aproveitamento das oportunidades para o desenvolvimento industrial, das pessoas e o fortalecimento da empresa.
Nos anos de 1970, assumiu a responsabilidade de promover o primeiro recall do mercado brasileiro, chamando os compradores do automóvel Corcel para a correção da montagem da suspensão dianteira, transformando um episódio negativo em sucesso de imagem do produto e respeito aos consumidores.
A despeito do temor da maior parte dos diretores da empresa por um programa inédito e de possíveis riscos junto ao público, O’Neill assumiu a responsabilidade pelo programa, que foi um grande sucesso.
Com moderna visão para negócios, também decidiu incluir a Ford no programa Befiex, instituído pelo governo brasileiro para o aumento das exportações, com a assinatura do primeiro contrato assumindo a responsabilidade pelo fornecimento de motores e veículos para o exterior, no valor correspondente a um milhão de dólares por ano.
Com esse programa, O’Neill contribuiu para a Ford construir uma fábrica de motores em Taubaté de onde forneceu propulsores para os automóveis Ford Capri, na Inglaterra; Ford Courier, no Japão, e Ford Thunderbird e Mustang, nos Estados Unidos, além de exportar caminhões Ford Cargo para o mercado norte-americano.
Por todas essas ações de estímulo às exportações e aos investimentos que a Ford fez em ABC paulista e também pelo notável esforço que fez em benefício da valorização das pessoas, em 1976, Joseph O`Neill foi condecorado com a Medalha do Mérito Cívico do Município de São Bernardo do Campo.
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Crédito das imagens: Arquivo de Internet.
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